Por Maristela Basso,vice-presidente do CRC e conselheira do GLIP.
Os debates sobre a “crise de valores” trazem implícita a interrogação sobre o papel da escola no ensino, e a importância do retorno do aprendizado cívico aos currículos pedagógicos. A educação obrigatória e laica de futuros cidadãos tem, sim, um fundamento político e se edifica sobre uma referência permanente ao civismo, isto é, ao respeito a si mesmo e aos outros, à lei, ao direito, às instituições democráticas, assim como o amor à família, a devoção à pátria e aos direitos do homem, neles incluídos os das crianças, jovens, mulheres, indígenas e minorias, quaisquer que sejam.
Hoje em dia, as instituições não podem acreditar que, para formarem as pessoas e mudá-las, em muitos casos, seja suficiente apenas um discurso sobre a “vontade”, “as liberdades individuais”, “os desejos” e a “felicidade”. Elas sabem, ou deveriam saber, que as normas escolares não refletem, necessariamente, as normas sociais de ocasião.
Os pais não exigem mais que as escolas ensinem seus filhos a pensar direito, mas sim que apresentem a chave do “sucesso escolar”. Os professores vivem sob a ameaça constante do grande investimento que todos fazem sobre o “interesse privado”. O sucesso individual passou à frente da formação do cidadão.
O amor às leis é uma fórmula apenas bela ou efetivamente faz sentido para os estudantes nas escolas?
São as leis e as instituições que são amáveis ou a ordem que as inspiram?
O civismo se aprende somente na escola?
A escola forma cidadãos como proclamam os textos fundadores das instituições de ensino e as leis, inclusive a Constituição Federal?
As respostas a tais indagações partem da premissa de que a função das escolas é ensinar os valores morais, assim como desenvolver a reflexão sobre os verdadeiros meios de se tornar cidadão em uma sociedade que cada vez mais flerta com o imoral, o amoral, o ilícito e a contravenção.
A instituição que privilegia uma formação cívica se funda sobre princípios e valores universais que garantem a liberdade e preservam o corpo social.
A instrução cívica é uma disciplina que tem seu conteúdo e, sobretudo, conecta e religa certas disciplinas escolares, e atravessa o ensino de outras, tais como, a linguagem, a história, a biologia, a geografia, a matemática, a física, as ciências, etc.
Mesmo nas disciplinas que são facultativas, se pode oferecer uma formação cívica e moral.
A educação cívica busca a formação do homem e do cidadão, desenvolvendo a compreensão das regras da vida social e política, por meio do entendimento reflexivo e crítico dos princípios e valores que fundam e organizam a democracia, a república, com base no primado do conhecimento e da cultura.
Ademais, como consequência de uma educação cívica, os estudantes adquirem e desenvolvem o senso de responsabilidade individual e coletiva. E tornam-se mais sensíveis e argutos na prática do espírito crítico e da argumentação.
Dessa forma, se prepara e se permite a inserção dos estudantes na cidade, no país, no mundo. A principal função de uma educação cívica, portanto, é desenvolver o saber e a prática da reflexão, do pensar, do existir. Como também ajudar no autoconhecimento (e daquele dos outros) e, principalmente, como não ultrapassar os limites civilizatórios, do bem comum, da urbanidade, da probidade e do amor à vida.